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Gospel é o gênero musical mais ouvido por moradores de Salvador



Segundo a pesquisa 'Cultura nas Capitais', a música gospel lidera a preferência do público na capital baiana, à frente de ritmos como MPB, sertanejo e pagode.



                                                         @ Foto: Gabriel Ferreira


O crescimento no número de pessoas evangélicas em Salvador, constatado no Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se reflete nos hábitos culturais: na terra do axé music e do pagodão, o gênero musical mais ouvido é o gospel. A informação foi revelada pela pesquisa Cultura nas Capitais, divulgada em abril deste ano.

O levantamento mostrou que a música golpel é a preferida de 28% dos moradores da cidade. Ritmos como o axé e o samba-reggae, historicamente associados à identidade musical da cidade, sequer aparecem na pesquisa. A Música Popular Brasileira (MPB) figurou como segundo gênero preferido (24%), enquanto o sertanejo (19%) o pagode (19%) apareceram empatados em terceiro lugar.

O estudo foi conduzido pelo DataSenado em parceria com o Ministério da Cultura, com base em 600 entrevistas realizadas em 2024.

Em entrevista ao g1, o cantor baiano Marcos Semeadores avaliou o crescimento do gospel na cidade. Segundo ele, isso deve-se ao fato das pessoas buscarem um conforto com a palavra de Deus através da música.

"Isso demonstra que o gênero gospel não está restrito às igrejas e faz parte da vida dessas pessoas, que muitas vezes nem frequentam os templos, mas que estão em busca de uma mensagem de fé, esperança e amor e vivem nesse mundo de agitação e desafios", afirma o artista.

Semeadores canta o chamado "pagode gospel" e faz sucesso entre jovens evangélicos. Ele acredita que a ampliação do gênero, que hoje abrange diversos ritmos, contribuiu no alcance do público.

O artista também defende que a qualidade da produções musicais é um fator decisivo para que as pessoas optem por escutar música gospel mesmo quando estão fora dos templos.

"O gênero gospel está se aproximando das pessoas porque ela não toca só nas igrejas. Está também nos carros, fone de ouvido, churrascos e nas redes sociais".

Música como ferramenta de evangelização

O gênero gospel surgiu nos Estados Unidos, no início do século XX, fortemente ligado à comunidade afro-americana e à vivência religiosa nas igrejas protestantes. O estilo foi responsável por formar pequenos conjuntos musicais nas igrejas, os famosos corais.

Já no Brasil, como pontua Joel Zeferino, que atuou por duas décadas como líder religioso na Igreja Batista Nazareth, em Salvador, os fiéis passaram a usar o termo "gospel" como sinônimo para a música evangélica.

"Não importa se é rock, sertanejo ou em forma de axé, tudo é rotulado como gospel. Estamos falando sobre uma apropriação de diversos gêneros musicais muito populares entre os brasileiros. A música designada como gospel abrange uma série de musicalidades", analisa o religioso.

Para ele, a preferência pelo gospel vai além da música: trata-se de uma ferramenta de evangelização que se consolidou como fenômeno social.

"Muitas pessoas que não frequentam as igrejas evangélicas ouvem as músicas do gênero gospel, porque estão dentro desse ambiente cultural que os evangélicos conseguiram criar pelo grande crescimento nas últimas décadas".

Joel lembra que quando começou a frequentar os templos evangélicos, ainda na infância, as cerimônias eram focadas nas pregações dos líderes religiosos. Mas atualmente não funciona da mesma forma. Ele destaca que as músicas fazem parte da programação dos cultos e até mesmo igrejas menores possuem bandas formadas.

"As pregações eram acompanhadas de silêncio ou, no máximo, de um instrumento tocando, como fundo musical. Atualmente, os cultos evangélicos, em sua maioria, são ditados pelas músicas. O momento do louvor pode durar até 40 minutos com pessoas cantando junto e uma banda muito ensaiada. Até igrejas simples vão ter um grupo de música", pontua.

O evangélico acredita que o fenômeno gospel também esteja relacionado à expansão das músicas evangélicas em rádios "seculares", como são categorizadas as coisas sem vínculo com a religião. De acordo com ele, o fato das canções tocarem a população geral fortalece a disseminação do gênero, inclusive, no catolicismo.

A expressão Católica Apostólica Romana tem perdido força no país de modo geral. Em Salvador, menos da metade da população se considerava católica em 2022, conforme demonstrado no Censo divulgado pelo IBGE na sexta (6). Por outro lado, cresceu 17,9% o número de evangélicos, chegando a 523,4 mil cidadãos. Fonte: G1BA.









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